segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Alfabetização matemática: O que é e por que fazer?

Texto de minha autoria buscando apenas fazer uma reflexão sobre as práticas pedagógicas para o ensino da matemática

O termo alfabetização que, na maioria das vezes, é utilizado como definição para os processos de aprendizagem que tem por base a aquisição da leitura e escrita da língua portuguesa, tem um significado social mais amplo que sua definição básica dentro do ato de ensinar a ler e a escrever.
Quando pensamos na função social da alfabetização, é possível perceber que, para que o sujeito se constitua num agente de transformações com capacidade de reconhecer-se como ser social e responsável por suas ações, e necessário estar alfabetizado plenamente. Ler e escrever são condições fundamentais para a construção da autonomia, no entanto, é preciso salientar que o mundo natural e social no qual estamos inseridos está inscrito sob variadas formas de linguagem.
Fontana (2000, p.15) : “[...] mediadora de todo o processo de elaboração da criança, objetivando-o, integrando e direcionando as operações mentais envolvidas”, e ela é central para o processo de elaboração conceitual. “A palavra funciona como meio para centrar ativamente a atenção, para abstrair e selecionar os traços relevantes na situação considerada (análise), para estabelecer relações entre esses traços e sintetizá-los (generalização).” (Fontana; Cruz, 1997, p.99).
Os PCN (p 15) afirmam que A constatação da sua importância apóia-se no fato de que a Matemática desempenha papel decisivo, pois permite resolver problemas da vida cotidiana”, o que significa que é fundamental pautar o trabalho para o ensino da matemática contextualizado com situações reais. O que se pretende aqui é provocar uma reflexão acerca das propostas pedagógicas voltadas à construção do conhecimento dos conceitos matemáticos, repensando nossas práticas, fortalecendo a relação da escola com a realidade, para que o processo de ensino e aprendizagem seja, de fato, significativo.
Se considerarmos que linguagem e pensamento se formam através do contato com o mundo social e natural, reconheceremos a relevância de compreender a matemática, assim como a ciência, como uma linguagem de aquisição necessária para conhecer e interpretar o mundo.
É pela palavra do outro que a criança aprende e organiza seus processos mentais e amplia sua visão de mundo, ressignificando seus sentidos. Da mesma forma, é dentro de um contexto que aprendemos a linguagem da matemática e sua funcionalidade. Para que servem os números, símbolos, expressões matemáticas se não forem, a princípio, para traduzir ou elaborar uma informação. A criança, na fase inicial da vida escolar, compreende que, para identificar a sua casa, é necessário identificar um número. A sala de aula, em geral, possui uma numeração ou um simbolo que a identifique. Existe uma organização na maneira pela qual os alunos são organizados nas filas, ou nas carteiras, existe seriação e classificação ao seu redor.
Ao percebemos como matemática “nos fala” sempre algo, é possível compreendê-la como uma língua e é possível construir com os alunos essa percepção. Só há aprendizado se houver significado, acumular conteúdos, memorizar ou mecanizar a matemática, ou qualquer outra área, não faz com que sejamos autônomos na elaboração do pensamento e não estimula a capacidade critica e criativa dentro de uma concepção de educação que visa formar para a vida em sociedade.
Como, então, trabalhar a matemática como uma linguagem?
É necessário trabalhar dentro de um contexto que favoreça a comunicabilidade e a relação dialógica entre professor e alunos, num processo de interação que enriquece tanto o vocabulário quanto estimula a auto-estima. Instigar os alunos à busca de resultados e construir explicações dentro de situações-problema.
Se o professor trabalhou, por exemplo, um texto sobre a água, por que não criar situações-problema dentro deste tema e até mesmo dentro da realidade, trazendo informações de problemas que de fato acontecem?
Numa atividade de contação de histórias, por exemplo, já na educação infantil, dentro de uma obra como Chapeuzinho Vermelho, por que não criar problemas envolvendo a quantidade de doces que a Chapeuzinho levou para a vovó, ou levantar hipóteses de quais características ou símbolos possibilitaram o Lobo encontrar a casa da avó? As possibilidades de exploração da matemática como uma linguagem são muitas.
Nem sempre é fácil “quebrar” paradigmas conceituais, pois fomos ensinados, em muitos os casos, de modo mecânico e estimulados a memorizar. No entanto é necessário reestruturar nossas práticas, pois o mundo já não nos responde mais como antes, porque nossas perguntas precisaram também mudar e devemos direcionar nossos alunos pelo caminho que os fará a fazer novas perguntas e buscar outras respostas, fazendo uma leitura do mundo que os cerca se apropriando da linguagem em que o mundo está inscrito.

OLIVEIRA, L.G. 2017


REFERÊNCIAS
Fontana, R. A. C.  Campinas, sp: Autores Associados, 2000.
Fontana, R. A. C.; Cruz, M. N. São Paulo, sp: Atual, 1997.

PCN, Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília, 1997.