Texto de minha autoria buscando apenas fazer uma reflexão sobre as práticas pedagógicas para o ensino da matemática
O termo alfabetização que, na maioria das
vezes, é utilizado como definição para os processos de aprendizagem que tem por
base a aquisição da leitura e escrita da língua portuguesa, tem um significado
social mais amplo que sua definição básica dentro do ato de ensinar a ler e a
escrever.
Quando pensamos na função social da
alfabetização, é possível perceber que, para que o sujeito se constitua num
agente de transformações com capacidade de reconhecer-se como ser social e
responsável por suas ações, e necessário estar alfabetizado plenamente. Ler e
escrever são condições fundamentais para a construção da autonomia, no entanto,
é preciso salientar que o mundo natural e social no qual estamos inseridos está
inscrito sob variadas formas de linguagem.
Fontana (2000, p.15) : “[...] mediadora de todo o processo de elaboração
da criança, objetivando-o, integrando e direcionando as operações mentais
envolvidas”, e ela é central para o processo de elaboração conceitual. “A
palavra funciona como meio para centrar ativamente a atenção, para abstrair e
selecionar os traços relevantes na situação considerada (análise), para
estabelecer relações entre esses traços e sintetizá-los (generalização).”
(Fontana; Cruz, 1997, p.99).
Os PCN (p 15) afirmam
que “A constatação da sua
importância apóia-se no fato de que a Matemática desempenha papel decisivo,
pois permite resolver problemas da vida cotidiana”, o que significa que é
fundamental pautar o trabalho para o ensino da matemática contextualizado com
situações reais. O que se pretende aqui é provocar uma reflexão acerca das
propostas pedagógicas voltadas à construção do conhecimento dos conceitos
matemáticos, repensando nossas práticas, fortalecendo a relação da escola com a
realidade, para que o processo de ensino e aprendizagem seja, de fato,
significativo.
Se considerarmos que
linguagem e pensamento se formam através do contato com o mundo social e
natural, reconheceremos a relevância de compreender a matemática, assim como a
ciência, como uma linguagem de aquisição necessária para conhecer e interpretar
o mundo.
É pela palavra do outro que
a criança aprende e organiza seus processos mentais e amplia sua visão de
mundo, ressignificando seus sentidos. Da mesma forma, é dentro de um contexto
que aprendemos a linguagem da matemática e sua funcionalidade. Para que servem
os números, símbolos, expressões matemáticas se não forem, a princípio, para
traduzir ou elaborar uma informação. A criança, na fase inicial da vida
escolar, compreende que, para identificar a sua casa, é necessário identificar
um número. A sala de aula, em geral, possui uma numeração ou um simbolo que a
identifique. Existe uma organização na maneira pela qual os alunos são
organizados nas filas, ou nas carteiras, existe seriação e classificação ao seu
redor.
Ao percebemos como matemática
“nos fala” sempre algo, é possível compreendê-la como uma língua e é possível
construir com os alunos essa percepção. Só há aprendizado se houver
significado, acumular conteúdos, memorizar ou mecanizar a matemática, ou
qualquer outra área, não faz com que sejamos autônomos na elaboração do pensamento
e não estimula a capacidade critica e criativa dentro de uma concepção de
educação que visa formar para a vida em sociedade.
Como, então, trabalhar a
matemática como uma linguagem?
É necessário trabalhar
dentro de um contexto que favoreça a comunicabilidade e a relação dialógica
entre professor e alunos, num processo de interação que enriquece tanto o vocabulário
quanto estimula a auto-estima. Instigar os alunos à busca de resultados e
construir explicações dentro de situações-problema.
Se o professor trabalhou,
por exemplo, um texto sobre a água, por que não criar situações-problema dentro
deste tema e até mesmo dentro da realidade, trazendo informações de problemas
que de fato acontecem?
Numa atividade de contação
de histórias, por exemplo, já na educação infantil, dentro de uma obra como
Chapeuzinho Vermelho, por que não criar problemas envolvendo a quantidade de
doces que a Chapeuzinho levou para a vovó, ou levantar hipóteses de quais
características ou símbolos possibilitaram o Lobo encontrar a casa da avó? As
possibilidades de exploração da matemática como uma linguagem são muitas.
Nem sempre é fácil “quebrar”
paradigmas conceituais, pois fomos ensinados, em muitos os casos, de modo mecânico
e estimulados a memorizar. No entanto é necessário reestruturar nossas
práticas, pois o mundo já não nos responde mais como antes, porque nossas
perguntas precisaram também mudar e devemos direcionar nossos alunos pelo
caminho que os fará a fazer novas perguntas e buscar outras respostas, fazendo
uma leitura do mundo que os cerca se apropriando da linguagem em que o mundo
está inscrito.
OLIVEIRA, L.G. 2017
REFERÊNCIAS
Fontana, R. A.
C. Campinas, sp: Autores Associados, 2000.
Fontana, R. A. C.; Cruz, M. N. São Paulo, sp: Atual, 1997.
Fontana, R. A. C.; Cruz, M. N. São Paulo, sp: Atual, 1997.
PCN,
Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília, 1997.