segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Deixem nossas crianças brincar! Brincando também se aprende.

Para iniciar o processo de alfabetização é essencial a maturidade de alguns processos mentais, considerando a complexidade da aprendizagem no âmbito da teoria da cognição. Ao iniciar a escolarização a criança já tem em si os aspectos da linguagem e, muitas vezes, acompanhada do grafismo como representante inicial de algumas formas de expressão, no entanto,  tal situação não significa necessariamente que existem as condições fundamentais para a aquisição do código alfabético.

No processo de construção da leitura e escrita, diga-se construção e não aquisição uma vez que é algo construído e não simplesmente adquirido como um bem que se toma para si sem muito pensar ou desenvolver sobre ele, é necessário que estejam madurar algumas habilidades tais como: coordenação motora fina e grossa (global) lateralidade, percepção do esquema corporal, orientação espacial e temporal. As referidas habilidades, essenciais à alfabetização, precisam ser trabalhadas no início da vida escolar. Desta forma, à educação infantil deve ser dada a devida relevância. Atribuir à educação infantil à responsabilidade pelo início da alfabetização é descaracterizar sua função primordial no desenvolvimento das crianças.

De acordo com Teberoski (2001) o conhecimento inicial da criança sobre a linguagem não coincide com o início da
escolaridade obrigatória. A criança chega à escola com um vasto campo de vivências pessoais que precisam ser valorizadas. Dar início à alfabetização sem antes ter reconhecido no indivíduo a maturidade nas habilidades fundamentais é desvalorizar suas vivências e, mais sério ainda, é correr o risco de acarretar no futuro uma defasagem ou outras dificuldades de aprendizagem ou de interação social.

Cada etapa de desenvolvimento humano é único e precisa ser respeitado e valorizado. Nossas crianças não podem atender aos nossos anseios profissionais nem aos anseios da família que, em alguns casos, esperam e cobram das escolas que a educação infantil seja o lugar da alfabetização.

Decerto que cada criança apresenta, num certo momento, um tempo que é seu. Encontramos crianças que, por serem bem estimuladas, muito cedo desenvolvem habilidades inerentesaos processo de alfabetização, no entanto o estímulo certo no momento certo pode auxiliá-la ao desenvolvimento pleno e à aprendizagem da leitura e da escrita, mas de forma que não haja o aceleramento do processo e sim o respeito e a valorização de seu potencial dentro das competências previstas numa ação pedagógica bem planejada, tem como mediador o professor.

Acelerar um processo que é natural, embora necessite de estímulos, é correr risco de acarretar atrofios em diversos campos do desenvolvimento humano, incluindo até mesmo a construção da alfabetização como parte que pode ser negativamente afetada. É fundamental e coerente trabalhar e estimular o potencial de cada criança. A presente reflexão é propriamente uma análise com base em práticas de sala de aula e não faz nenhum tipo de "crucificação"  ao trabalho pedagógico que culmina na alfabetização de crianças na educação infantil, apenas provoca uma reflexão quanto às práticas escolares que visam prioritariamente a alfabetização como se estivem num ranking (ou talvez estejam) sem respeitar os limites que acabam, desta forma, aniquilando as possibilidades reais de sucesso do indivíduo no processo de ensino e aprendizagem.

                                                                                                                                                             Luciana Oliveira